segunda-feira, 26 de abril de 2010

ÍNDICES

O canto oposto da cama
guarda a forma do seu corpo,
o lençol, o seu cheiro,
sobre o travesseiro,
um fio de cabelo longo demais pra ser meu
A tevê ainda ligada, mais nada de sua presença...
O café morno que reforça
a falsa esperança de ter ido e já volta,
Torno à cama, evito o sonho ruim,
e a própria natureza do recado sobre a mesa.



DANILO ZAMAI - 26/04/2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

PRIMAVERA DE PLÁSTICO

O beija-flor não bate mais as asas:
foi água com açúcar demais,
deu diabetes
A janela está vazia,
outros pássaros não dão as caras,
como se avisassem uns aos outros
"Desta água não se bebe".

Em ritmo suicida,
as abelhas polinizaram
jardim de flores de plástico,
numa existência sem mel,
onde a lagarta se faz borboleta
e o céu não muda de estação.



DANILO ZAMAI - 30/03/2010

terça-feira, 20 de abril de 2010

VIDA EM CONSEQUÊNCIA

A vida é consequência de inconsequências,
dura o quanto dura a piada,
é o enquanto suspenso o sorriso prolonga pra lugar nenhum;
por enquanto e mais nada.

Homens plantam amores e amigos num terreno de incertezas;
homens ceifam homens.

A festa perdura pela noite estrelada,
baratas sobrevivem à dedetização
A vida é inconsequência bacteriana,
é a semente inconsequente na fenda do asfalto,
é a traça inconsequente em meus livros,
que insiste devorar a eternidade de homens inconsequentes.

A chama dura enquanto dura a explosão da granada...
A vida é o "Até onde chego?", sem chegada,
entre o fim e o começo.



DANILO ZAMAI - 20/04/2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

PERIGOS DO TRABALHO

Curioso caso o do homem
enterrado com o terno com que foi trabalhar
A profissão não requeria riscos,
o homem não sofria nem de cisco no olho;
não precisou muito para a suspeita pairar no escritório
Teria sido dona Verinha,
responsável pela merenda
ou o crápula do Osvaldo,
que ao pobre coitado aprontou alguma?
Todos apontavam o chefe como possível culpado
O laudo médico não deixou qualquer dúvida:

Causa mortis - choque térmico
Transição abrupta do calor familiar
para a fria rotina de tédio.



DANILO ZAMAI - 16/04/2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

S.O.S. SAUDADE

Quem um dia diria
que se sentiria falta da espera
de esperar por alguém?
que o mundo se atravessa
caminhando com os dedos das mãos?
porque o mundo é medido em segundos,
o tempo em números;
fica de lado o que não se mede.

Perdido entre mensagens de compromisso,
entre palavras que não dizem nada
- são só palavras sem compromisso
Me cerco de vazio,
me afogo num rio sem água e sem vontade,
tenho falta da falta de sentir,
saudade da falta de seguir
e me perder entre as mensagens.


DANILO ZAMAI - 01/04/2010