sexta-feira, 10 de setembro de 2010

PACTO EM SILÊNCIO

Esta sombra não pode ser minha
Não a mesma sombra
de meus primeiros dias
Na mais idosa memória,
era mirrada e pequenina,
incapaz de um passo além
sem se perder de mim
Veja você agora,
como cresceu!
Alimentou-se de lembranças
às minhas costas,
está feita gente grande
com vestes para passeio noturno.

Eu sei, sem me dizer,
(e você sabe que eu sei)
que enquanto durmo
revestido de sonhos,
na surdina você sai
pra se fundir na noite
Porque a noite pertence
às sombras que vagam
à procura do silêncio
soprado ao pé do ouvido;
dos segredos
na claridade do dia, ocultados.

Você se finge de tonta, mas eu sei
(e você sabe que eu sei)
Assim perpetuamos
nosso acordo em silêncio:
de dia, você é a sombra dum poeta,
de noite, sou um poeta assombrado.



DANILO ZAMAI - 10/09/2010

sábado, 4 de setembro de 2010

POESIA FUGIDIA

Estou prestes a admitir:
sou um caçador de borboletas fantasmas;
mas não o faço,
só deixo clara a intenção de admitir...

Se minha área de trabalho
é o campo das reticências,
como irei reter a imagem que se derrete
assim que se pretenda rabiscar a folha?
com que propriedade?

O poema é pobre
na tentativa de captar a poesia
emanada nas coisas da vida;
o poeta é louco de tentar
A poesia, ao que parece,
não pretende ser escrita.

No jardim, o gato preto,
que há pouco tentava capturar
a sombra ligeira duma borboleta,
me encara,
e até parece entender o que se passa.



DANILO ZAMAI - 30/08/2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

LINHA INTERROMPIDA

Uma ligação perdida,
número não identificado
Quem poderia ser...?
Estava ocupado com outra chamada:
assistia algo sem muita importância
mas que prendeu minha atenção
Aguardo o telefone tocar,
novamente ele não toca.

Seja o que for,
precisava ser dito no exato momento
e em nenhum outro
Típica ação do ímpeto,
tipo de reação em cadeia
capaz de mudar o curso de toda a vida;
típico do que faz diferença.

O amor, amizade ou seja lá o que for
apenas existiu na fibra ótica
O telefone não toca;
pior: os dominós não se movem
Me pergunto se muito do que chega aos meus sentidos 

                                                                                  me desvia o sentido.


DANILO ZAMAI - 01/09/2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010


MULHERES DE AR

"Procura-se Bete"
vou mandar fazer uma placa...
Não que espere que Bete apareça
Suas pernas torneadas
domaram o asfalto,
tão seguras de si,
que Bete era feita somente de pernas.

"Procura-se Ângela"
e seus olhos de Lua sempre cheia
Repletos de apreensão difusa,
imploravam por conforto e segurança,
como se o susto antecipasse o fantasma -
que bom que na hora eu passei...

"Procura-se Estela",
naquele vestido aquarela
O mesmo que envolveu o seu corpo
e seus contornos de cor,
deixava pra trás o tom cinza invariável
de passado sem saudade.

"Procura-se ela",
ainda que não tenha nome
nem forma,
mesmo assim tão presente
quanto qualquer mulher
da minha vida inventada.


DANILO ZAMAI - 23/08/2010
       

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

NOVOS VIZINHOS

- Vou fechar a janela, gato, tá um puta dum frio. Vai ficar aí ou vai entrar?
- Pode fechar, vou ficar aqui mais um tempinho.
- O que você tanto olha aí, afinal, posso saber?
- Você não viu que mudou gente nova no apartamento da frente, no segundo andar?
- Eu vi um caminhão de mudanças um dia desses, mas nem prestei atenção em quem poderia ser. Eles estão lá embaixo...?
- Hei, hei, hei, o que você tá fazendo! Presta atenção, pô! Não aparece com a cabeçona na janela, senão você vai dar muito na cara.
- Então me fala: quem é que você está vendo aí?
- O pessoal que se mudou, os novos vizinhos, eles trouxeram uma gata, e ela está se espreguiçando no parapeito neste exato momento. Uhmm, que belo exemplar da espécie...
- Vai lá, garanhão, joga um charme pra ela.
- Já vi que de fêmea você não entende muita coisa... Não posso me comportar feito um predador, vai assustar a gatinha. Além do mais, preciso parecer indiferente, até mesmo desinteressado por causa da Tita, a gata do terceiro (andar); preciso deixar no ar a minha preferência por ela, mesmo com a chegada da nova vizinha. Assim eu faço uma dupla jogada: a Tita não me vê como um safado, um cara de pau, e ainda deixo a impressão para a recém-chegada de que não me jogo atrás de qualquer rabo de gata (o que é uma baita mentira). Os gatos da redondeza vão aparecer igual urubu, quando sentirem o cheiro de carne nova no pedaço. Eu vou ficar na minha, aparentando normalidade. Não vai demorar muito a vizinha nova percebe o flerte que rola entre mim e a Tita, daí é esperar pela reação dela, ver se ela começa a prestar mais atenção em mim...
- É bem isso mesmo... Mulher é igual emprego: só aparece quando você já tem uma.
- Por isso você não tem nem um nem outro, e pelo visto vai continuar assim por um bom tempo...
- Vai me zuando, gato, acabo com o seu esquema romântico agora, se você quiser.
- Hei, cara, tô só brincando, pega leve.
- Aposto que você ia ficar puto se chegasse da rua qualquer dia e percebesse que tem mais alguém dormindo na cama, sem espaço pra você deitar. Você sabe que eu durmo até mais tarde e que a minha cama é a única que fica desarrumada o dia todo. Queria ver a sua cara se houvesse alguma mulher pra me obrigar a organizar este quarto... Adeus edredom pra se enfiar e adeus escurinho pra você não dormir com a cara no Sol. Isso se eu não conhecesse alguém que não gostasse de gatos...
- Senti o cheiro da discórdia no ar...
- Porra, me esqueci do pão na frigideira!

domingo, 15 de agosto de 2010

LINGUÍSTICA

Não me livro desta palavra "cíclica"
"Ci": ponta da língua nos dentes
 "cli": ar pelos cantos da língua
"ca": estalo surdo no céu da boca
Minha língua dançando com as ideias,
ciclicamente...


DANILO ZAMAI - 15/08/2010
 

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

PÁGINAS AMARELADAS

Recuso me² enquadrar
e nem me ouse chamar
de "dicionário ambulante"
Apenas trato, de modo especial,
as palavras, todas elas
- o que significa, por vezes,
despertá-las do pesado sono
sob a cova enciclopédica.

Mas não me chame "enciclopédia ambulante"
Longe de mim!
Para tanto, manejo, os deixo tontos,
vocábulos ordinários
postos em campo estrangeiro,
em casa dos outros
e arco o preço
que isto implica a meus ouvidos.

Só não posso passar reto
- e aqui revelo o meu fraco -
duma palavra formosa,deitada
sobre o papel amarelo
(um verdadeiro elefante branco),
que encheria sozinha o verso em cheio,
mas não caberia numa única conversa
E passariam os anos,
e correriam os dias
sem que os sentidos fossem tocados
pela melodia de tal palavra...

a menos que um esteta, em pleno dispudor,
revelasse seu escrito
como hieróglifo perdido
nas areias amareladas do Cairo.



DANILO ZAMAI - 13/08/2010
    

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

SEM CERTEZA

Cabe à certeza ter
uma porta bem fechada por chave
trancada por fora
pertences pra dentro
Caso ninguém não perceba
há um aviso pendurado na porta
guardados no armário
sapatos de passos possíveis

O mundo gira as pás
que geram o vento das mudanças
Com certeza
é nadar contra a corrente giratória
é se agarrar em migratória miragem
é lançar âncora no cansaço
Cheio de incertezas
é o fundo musical que passeia
sobre as cabeças dos homens diários
é o medo de que os prédios erguidos
na solidez movediça do mercado
flutuante desabem.



DANILO ZAMAI - 05/08/2010
     

segunda-feira, 26 de julho de 2010

INVASÃO DE ESPAÇO

Sensibilidade
sensível idade
fronteira sensível
às sutilezas do mundo
do fuso
do sibilo da cidade
da privacidade
da vida privada por grades
do silêncio do muro
e suas reentrâncias
cavidades sensitivas
labirinto de entranhas ruminantes
espiam deidades
sonoras e gráficas
belicosidade muda
na sopa onde as ondas se misturam.



DANILO ZAMAI - 26/07/2010
       

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Eu-nírico #20

LUAS DA TARDE

Eis aí a Lua
às duas da tarde,
branca e discretamente
metade - meia lua
mea culpa é metade
Ignora - como ignora o poeta -
seu lugar no imaginário comum:
condição de espelho ao solitário
pendurada em céu noturno;
a eterna separação do companheiro Sol...
Ao contrário,
eis aí ela, às duas da tarde,
divide espaço com nuvens, pipas
e pássaros carregados pelo vento
O poeta ignora que é dia,
que não se sente infeliz;
condiz apenas o inverno,
que o Sol da tarde insiste em desmanchar...
e a Lua que fez nascer mais cedo.



DANILO ZAMAI - 20/07/2010
  

terça-feira, 20 de julho de 2010

RECIPIENTE

Duas jovens mulheres correm
atrás de um corpo que nunca será ideal
- não para todos
os outros e os olhos,
não para elas
Por outro lado, o corpo,

só deseja dançar líquido
a dança envolvente dos corpos,
provar que é próprio ao amor,
matar a sede ainda que não seja copo.

 


DANILO ZAMAI - 20/07/2010

sábado, 17 de julho de 2010

APARELHO FONADOR

Boca de criança é mais parquinho que qualquer outra coisa
Letras fazem da língua trampolim
e tanto podem sair "pipoca" quanto "pitota";
já a palavra "carrinho"
parece saiu deslizando do escorregador
Palavras brincam no gira-gira, disputam o balanço,
sobem e descem na gangorra;
fica fácil visualizar quando uma bola entra em jogo
se um pivete enche a boca e lhe dispara redondo "bundão".



DANILO ZAMAI - 17/07/2010
  

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Pô: heresia visual #7



            Eu sei que essa fonte não ajuda na leitura e pode dar a impressão de que, na verdade, trate-se (o poema) de um hieróglifo, mas a intenção não é tornar o texto indecifrável. Por isso vou deixar aqui o texto com uma fonte menos incomum:

DESCONSTRUÇÃO

Feito sólida -
mente reta -
ãgulo tonto -
fixo paredes -
entreoutros -
apartamento -
planejado -
almejada -
a solidão -
socioanemia -
parabólica -
piso solto -
descarrilhar -
do trem vertical -

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Eu-nírico #16

MÃE DOS HOMENS

A puta cede o colo aos homens já sem mãe,
é o animal de estimação que não exige carinho

A outra, tudo bem, pode até ser mãe de deus,
mas a puta é mãe dos homens:
é o caminho para os filhos rejeitados,
abre o ventre para os filhos enviados
à puta que os pariu.



DANILO ZAMAI - 11/07/2010
  

domingo, 4 de julho de 2010

DESASTRADO

Refratário
Prataria
Trincado, o silêncio.

Distraído, o desastre
Cascata
Pratos e talheres.

Traumas
Colheres
Entraves
Fragmentos.



DANILO ZAMAI - 04/07/2010
      

domingo, 27 de junho de 2010

Pô: heresia visual #5

FIOS SOLTOS

Cai-cai de fios de cabelos
carretel de prós e contras
teça a veste lenta da serenidade;
pontas de saudade, é verdade
fios que pinicam o peito sob a lã
Um vão entrementes
os anos se contam nos fios de cabelo
presos no pente sobre a prateleira

arranjo-os em linha
busco o fio da meada.



DANILO ZAMAI - 26/06/2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

À NOITE, NEM TODOS GATOS SÃO PARDOS

No silêncio da madrugada, quando o mundo parece dormir e o tempo parar, quando nada se espera que aconteça, um gato cruza o caminho de outro gato - ou poderia ser o contrário, uma vez que cada um está indo a algum lugar, não se sabe a quem o caminho pertence:
- Mais um folgado - diz o gato que primeiro percebe a aproximação do outro. Esse aí eu nunca vi por aqui.
- Chhhhhh! Shiiihhhhhhhhhhhhhh!
- Para, para! Olha só, é o seguinte: não tem nada pra você aqui, não, então pode ir embora!
- E quem você pensa que é pra me dizer onde eu posso ou não posso ir?
- Eu moro aqui perto e sei bem o que você procura; então este é meu território e blá, blá, blá...
- Olha só, eu também moro aqui. Veja, eu tenho coleira, tenho dono. E o que você está falando...? Você não tem coleira, como sei se você não é da rua?
- Coleira é pra meninha, não gosto dessas frescuras, não.
- "Menininha" é o cacete! Chhhhhhhhhhhhhhh! Shiiiiiiiiiiiihhhhhh!
- Para, para! Já chega! Onde é que você mora?
- Naquele apartamento ali. Sou novo por aqui, faz algumas semanas que mudei pra cá.
- Moro no primeiro andar também, naquela escada lá, mas eu gosto de sair à noite.
- Lá onde eu moro, eles deixam a janela aberta, daí eu dou uma saidinha também. O problema é que a porta fica fechada, não dá pra entrar quando bate a fome, e não adianta miar, porque ninguém atende.
- Tem um idiota que mora comigo, o cara parece um vampiro, fica a noite toda acordado; ele sempre sai pra fumar um cigarro - parece um relógio. É aí que eu aproveito pra mordiscar alguma coisa.
- Que mamata. Onde eu moro só tem criança e velho, ninguém fica acordado de madrugada.
- O que você pode fazer é ficar aqui a noite toda e entrar quando eles abrirem a porta de manhã pra trabalhar, jogar o lixo, sei lá... Mas evita de ficar miando por aí, porque você só vai atrair zica pra cá. Tem um monte de vagabundo que quer tirar uma boquinha da nossa ração e aqueles trouxas com quem eu moro são bem capazes de ficarem com dó e alimentarem esses malandros. Era só o que me faltava, um bando de gatos na porta de casa. Sem contar o risco de algum guarda aparecer pra chutar você...
- Ah, me liguei... É, tem mesmo uns guardinhas que ficam rondando por aí. E o que tem pra fazer aqui à noite?
- Eu gosto de aproveitar, sossegado, um capô de carro quentinho; mato umas baratas, corro atrás duns ratos, só pra sacanear. Mas já vou avisando: se for fazer isso, faça da sua escada pra lá.
- Mas daí só me fica um jardim! Pra lá tem o parquinho e os bueiros ficam todos debaixo do bloco.
- Tá bom, mas evita de caçar onde eu estiver caçando.
- Não, tudo bem. Puxa, eu adoro caçar barata!
- É, é mó barato mesmo. Eu finjo que acreditei que elas estão mortas e, quando menos esperam, eu dou outra patada.
- Acho que vou fazer aquilo que você disse e esperar alguém sair pra trabalhar pra entrar em casa.
- É uma boa...
(Silêncio constrangedor.)
- Bom, vou voltar lá pra minha escada, que daqui a pouco o idiota sai pra fumar.
- Vou dar uma volta pra conhecer a área.
- Beleza.
E o impossível ocorre.
- Se acontecer alguma coisa, dá um miado.
- Pode deixar.
- Falou.
- Falou.
           Quando nada parece acontecer, no silêncio da noite, o mundo parece dormir e o tempo parar, dois gatos viram amigos na madrugada.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

POEMA DE GAVETA

Fecho tribulações
em madeira sóbria,
um homem mobília.

Batidas dobram,
debaixo do peito,
coração à obra.
 

Emoções kamikazes,
querendo levar,
da camisa, os botões

voam feito rolhas,
deslisam feitas em
pombas de champagne.

Arritimia dos ossos,
da boca, uma palavra ousada
sai em fuga.

Palavras ditas não se recolhem,
perdem o parentesco,
assim saídas, morrem ou brotam.



DANILO ZAMAI - 31/05/2010

domingo, 30 de maio de 2010

VIDAS QUE PASSAM

Ando distraído pela calçada,
que me leva a mais um dia de...
não me dou conta que a calçada acaba:
bombardeiros rasgam o céu, tanques sangram a terra,
o inimigo se lança detrás do barulho imenso,
lâmina e corpo são um só
Eu sou só e silêncio...
suspenso o olhar de "não precisava ser assim"
Agradeço à mão que me ergue
da trincheira onde me encontrava,
me levanta do meio-fio
Redispostos, os pés movem o trajeto:

Pessoas caminham apressadas,
os olhares, por outro lado, caminham sem pressa;
e a sensação é que um deles me persegue
Despontam aqui e ali rostos reconhecidos,
a cena se reproduz logo à frente:
paredões de faces excitadas,
de ambos os lados, agurdam pela execução,
artilharia de vaias é lançada
ao corredor,onde arrastam o acusado
O carrasco é melhor recebido...

Entre último suspiro e metal, permanece o segundo
Interropindo pela luz na estrada, desperto ao volante,
a um suspiro de distância, a colisão inevitável
Nos separa o instante, entre nós, o segundo
permanece como medida de tempo,
mas capaz de abarcar um mundo.

No leito de hospital, onde me deixo,
o corpo parece descansar, diminuindo,
até tornar-se ponto azul terrestre
entre as mudas cintilantes astropedras,
encrustadas na caverna dos sonos
Sim, isto é sonho!
Cubro-me com o lençol negro do universo,
fecho os olhos em vão, como de vidro se tratassem:
astropérolas por onde eu olho e cometas passam,
suas caldas desenham caracteres numa língua sem palavras
e eu não posso descrevê-la.

Súbita, a luz irrompe de lugar nenhum,
apagando pouco a pouco as estrelas
do (uni)verso de minhas pálpebras;
cá estou eu de novo, lúcido como um bebê,
com a certeza de um dia reencontrá-las.



DANILO ZAMAI - 29/05/2010

sábado, 29 de maio de 2010

RANZINZA

Tropecei no rabo dum cometa
e no sol eu derramei café
Já te vi vestindo humores variados,
alguns exagerados,
nunca tão ranzinza como agora
Sol que brilha, aquece e rebrilha
mas não ferve o meu café,
manda-me uma chuva 

que me afogue esta modorra,
ou muito boa noite, até.


DANILO ZAMAI - 29/05/2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

opoStunidade

O desejo diz que é agora,
a razão pede que pondere,

o medo retruca "espere!"
Algo me diz que já é tarde demais...



DANILO ZAMAI - 20/05/2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

BOMBA-RELÓGIO

A caneta não pega:
as letras são escritas não por tinta,
mas pela insistência de se saberem salvas
no relevo da folha.

A força fere o papel,
num sinal de que feridas serão exposta e servidas
em porções durante o dia anterior a amanhã.

Letras invisíveis marcham como dados
de volta ao campo das ideias...
invisíveis mas não caladas,
giram noite a dentro, provando meus nervos,
sem combinação a meu favor,
sem falsa esperança de se perderem em sonho.

Quando o desejo de dormir não vem
seguido da vontade de não acordar,
sinal que alguma coisa não vai bem,
 ou todas as outras coisas.



DANILO ZAMAI - 20/05/2010


(Poema dedicado ao Caio - não pelo tema, que é bem triste e reflete um estado de espírito meu, mas pela ocasião de seu aniversário... PARABÉNS, CAIO.) 

segunda-feira, 17 de maio de 2010

DRAGÕES

Quando criança, buscava no céu nuvens brancas,
dragões baforavam fumaça
Um cachorro com escamas de algodão
e um navio a velas colidiam,

transformando-se em cogumelo, uma face
Não havia nuvem sem forma,
nem forma que não coubesse uma história.

Fui convencido a desvestir da fantasia
Quando olho o céu, procuro por chuvas e somente...
Esqueço que ainda há dragões,
cujas lufadas, eu cria, ocultam uma cidade flutuante,

mesmo um aquário de peixes etéreos
Quando olho o céu, procuro tempestades e somente
tempestade é o que recebo em troca.



DANILO ZAMAI - 17/05/2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

BREVIDADE

Mulheres ao vento
Homens ao mar
Grãos de areia do tempo.


DANILO ZAMAI - 11/05/2010

domingo, 9 de maio de 2010

Pô: heresia visual #2



Estou me sentindo instigado a utilizar esta técnica - apesar de ser muito trabalhosa - para a montagem de outros poemas visuais. Depois de quebrar a cabeça por alguns dias num modo de escrita tão restritivo, você passa a dar muito mais valor à liberdade que uma página em branco oferece.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Recantos de tranquilidade

Sou um homem da cidade, nasci nela e aprendi a seguir conforme o seu ritmo. Caminho pelas ruas do centro cheias de carros, de gente ocupada, trabalhando nas lojas e calçadas; gosto de ver os prédios novos serem construídos e de sentir que faço parte desse movimento intenso da Guarulhos que se renova.

Mas há certos momentos em que é preciso um pouco de sossego, de calma para retomar o fôlego e continuar o itinerário: escolho um banco vazio debaixo das árvores na Praça Getúlio Vargas ou na Praça do Rosário; acompanhado de um bom livro, do jornal ou de uma revista, me desloco da correria diária. O som dos carros diminui, e também parece diminuir o ritmo do meu dia.

Mesmo quando o compromisso não permite e atravesso a praça com passos apressados, tenho a certeza de que, numa próxima ocasião, poderei contar com um desses lugares da cidade, os quais carinhosamente chamo de “recantos de tranquilidade” e tirar o tempo de que preciso.



Vídeo produzido pelo Canal Guarulhos, a partir da crônica acima:






Preciso agradecer a minha amiga Paty (http://fertilidaderacional.blogspot.com/), por ter explicado a proposta e me convidado a participar deste projeto da Secretaria de Comunicação de Guarulhos. Obrigado Paty!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

ÍNDICES

O canto oposto da cama
guarda a forma do seu corpo,
o lençol, o seu cheiro,
sobre o travesseiro,
um fio de cabelo longo demais pra ser meu
A tevê ainda ligada, mais nada de sua presença...
O café morno que reforça
a falsa esperança de ter ido e já volta,
Torno à cama, evito o sonho ruim,
e a própria natureza do recado sobre a mesa.



DANILO ZAMAI - 26/04/2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

PRIMAVERA DE PLÁSTICO

O beija-flor não bate mais as asas:
foi água com açúcar demais,
deu diabetes
A janela está vazia,
outros pássaros não dão as caras,
como se avisassem uns aos outros
"Desta água não se bebe".

Em ritmo suicida,
as abelhas polinizaram
jardim de flores de plástico,
numa existência sem mel,
onde a lagarta se faz borboleta
e o céu não muda de estação.



DANILO ZAMAI - 30/03/2010

terça-feira, 20 de abril de 2010

VIDA EM CONSEQUÊNCIA

A vida é consequência de inconsequências,
dura o quanto dura a piada,
é o enquanto suspenso o sorriso prolonga pra lugar nenhum;
por enquanto e mais nada.

Homens plantam amores e amigos num terreno de incertezas;
homens ceifam homens.

A festa perdura pela noite estrelada,
baratas sobrevivem à dedetização
A vida é inconsequência bacteriana,
é a semente inconsequente na fenda do asfalto,
é a traça inconsequente em meus livros,
que insiste devorar a eternidade de homens inconsequentes.

A chama dura enquanto dura a explosão da granada...
A vida é o "Até onde chego?", sem chegada,
entre o fim e o começo.



DANILO ZAMAI - 20/04/2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

PERIGOS DO TRABALHO

Curioso caso o do homem
enterrado com o terno com que foi trabalhar
A profissão não requeria riscos,
o homem não sofria nem de cisco no olho;
não precisou muito para a suspeita pairar no escritório
Teria sido dona Verinha,
responsável pela merenda
ou o crápula do Osvaldo,
que ao pobre coitado aprontou alguma?
Todos apontavam o chefe como possível culpado
O laudo médico não deixou qualquer dúvida:

Causa mortis - choque térmico
Transição abrupta do calor familiar
para a fria rotina de tédio.



DANILO ZAMAI - 16/04/2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

S.O.S. SAUDADE

Quem um dia diria
que se sentiria falta da espera
de esperar por alguém?
que o mundo se atravessa
caminhando com os dedos das mãos?
porque o mundo é medido em segundos,
o tempo em números;
fica de lado o que não se mede.

Perdido entre mensagens de compromisso,
entre palavras que não dizem nada
- são só palavras sem compromisso
Me cerco de vazio,
me afogo num rio sem água e sem vontade,
tenho falta da falta de sentir,
saudade da falta de seguir
e me perder entre as mensagens.


DANILO ZAMAI - 01/04/2010

quinta-feira, 18 de março de 2010

Maquinal



No momento em que o despertador o acordou para trabalhar, ainda deitado em sua cama, não encontrou nenhum motivo para que o fizesse, ou qual seria sua influência na cadeia da vida se assim procedesse. Sem achar a resposta – o que acontecia há anos -, seguiu com as tarefas diurnas básicas: escovar os dentes, tomar banho, vestir-se. O café da manhã teve de ser feito no caminho para o ponto de ônibus, não por pressa, mais por costume.

Observou a paisagem, que desconsertava os olhos por mais que diariamente a visse; não podia fixar-se a um ponto por mais que quisesse, assim como não conseguia compreender o seu funcionamento. Alcançava apenas uma macrovisão de todo aquele sistema colossal de vias, prédios, pessoas; e ao pensar nisso tudo, também não entendeu qual era o propósito daquele organismo, semelhante a um coral de concreto, móvel, estendendo-se por onde fosse possível, que abocanha qualquer vida que lhe estiver ao alcance.

Chegou ao trabalho com a sensação de indiferença paralisante. No entanto, não desejou voltar pra casa. Ficou como um sem-teto à frente do prédio do escritório até que um colega de trabalho o fizesse recordar de que devia entrar. Aquilo o acordou momentaneamente. Sem olhar quem lhe havia avisado, seguiu para o acesso de entrada dos funcionários, estranhando-se com a porta automática.

 Passou pelo segurança, o qual olhava insistentemente para dois vasos de plantas, a um canto da parede direita do átrio. Um pouco adiante, ainda observando o porteiro, esperou o elevador. Do térreo ao sétimo andar (o seu andar), ouviu não mais que meia dúzia de palavras, daqueles seus desconhecidos de mesmo prédio. Era necessário dizer algo, ainda que isso representasse uma mania que haviam adquirido há eras e tivessem se esquecido disso. Percebeu que todas aquelas seis palavras não saíram sem alguma dificuldade. A cada solavanco que a máquina dava ao alcançar ou deixar um andar pra trás, era capaz de se ouvir um suspiro constrito partir das pessoas, sendo cortado depois pelo gole surdo de medo quando o movimento recomeçava. A absolvição chegou junto com o sétimo andar apontado pelo ponteiro interior do elevador.

Ele se sentou em sua cadeira, virado para a sua cabine de trabalho. Havia um silêncio atípico para os dias de serviço dentro do escritório e os telefones pouco tocaram. Olhava com olhar de dúvida para o calhamaço de documentos espalhados pela mesa, cada pilha identificada com um papel de recado autoadesivo amarelo na página inicial, onde se podiam ver rabiscos feitos à pressa. Permaneceu com a visão durante uns longos minutos até que, por condicionamento, pegou a pilha mais próxima, a única com papel de recado vermelho, e seguiu para outra seção do mesmo piso. Dentro do cubículo da pequena sala, havia apenas uma máquina copiadora. Principiou a tirar as fotocópias, página por página, daquela pilha de papeis, sem se dar conta de que não repuseram a resma na fotocopiadora. Às vezes, atrevia-se a ver o que continham as páginas, perdia-se na confusão de signos aleatórios contidos nelas, sem êxito.

O processo de colocar, apertar o botão “copiar” e tirar as folhas consumiu um longo tempo, em que predominou o som do silêncio. Ao virar-se, presenciou um estranho quadro naquele andar: atrás de si, formara-se uma longa fila, que não murmurava nem reclamava de impaciência pelo tempo consumido; fora da sala, através do vidro, pode ver muitos outros funcionários a observar seus telefones, como se aguardassem uma ligação que era certa. Todas as pessoas - os da fila e os do telefone - carregavam um olhar vazio, uns olhos de ruína; uns para o chão, outros para o nada, numa espera certa. Não se dizia uma única palavra.

Depois desse panorama, deixou de lado a pilha de papéis e saiu do prédio, agora para sua verdadeira casa. Retomaria, a partir dali, uma outra forma maquinal de se viver; a mudança fundamental seria a simplificação da forma: sobreviver, comer, perpetuar.

*****

Este seria o primeiro conto da série... Não tem muita ação, é praticamente um texto descritivo, e por algum tempo considerei se ele deveria ou não ser descartado. Foi a mesma razão pela qual eu quase o descartei que me fez tomar a decisão de mantê-lo na série: como o desdobramento narrativo se dá na maior parte através da enumeração, passo a passo, da rotina dessa pessoa, o texto cumpriu a proposta (inclusive do título), sem que isso fosse totalmente premeditado.
   
Demorei um pouco para aceitar o conto, para gostar dele de verdade, mas depois, com um pouco de insistência, ele pareceu representar muito bem a rotina do dia-a-dia, quando parecemos estar ligados no piloto automático, sem mesmo prestar atenção no que fazemos (quanto menos refletir sobre o que fazemos). Conforme os outros textos foram surgindo, decidi que a personagem deste texto deveria surgir em algum outro momento da série, como quem nos empresta os olhos pra ver... Vamos ver!

terça-feira, 16 de março de 2010

Dois segundos



O pedido era simples, porém estranho: dois carros, que viriam de direções opostas, atingiriam velozmente seu corpo em cheio. Mas o plano não nascera assim tão grave: a princípio seria apenas um carro, numa velocidade relativamente baixa, para que seu corpo apenas sofresse algumas fraturas não muito sérias. Assim poderia ficar no mínimo um mês em casa, livre de compromissos da universidade, do emprego, e ainda não precisaria fazer nenhuma tarefa caseira. Só que o plano, como uma idéia de vida própria, foi crescendo; adicionando velocidade, adicionaria, conseqüentemente, mais dias em que poderia ficar incapacitado de suas tarefas. Por fim, os cálculos foram elevados a tal ponto, que já não bastava um único carro e, como resultado, estaria desobrigado de forma permanente de qualquer tarefa. A adição do segundo veículo era como para dar certeza de que o objetivo fosse concluído; quem nunca ouviu uma história de alguém que se jogou de uma janela, ficando aos cacos, mas que mesmo assim ainda sobreviveu?

Não houve dificuldade para encontrar voluntários para a experiência. Num primeiro momento, os dois amigos convidados hesitaram, preocupados com as contas que provavelmente teriam de prestar à polícia e à família do rapaz; no outro canto, muito mais atraente aos dois jovens, havia a curiosidade que mata - aquela curiosidade que leva as pessoas a experimentarem e depois refletirem. Combinaram, os dois, de instalarem pequenas câmeras de vídeo nos capôs dos carros, com a finalidade de depois dividirem a experiência com outras pessoas. Seria um daqueles vídeos chocantes da Internet.

No epicentro daquele acontecimento, o criador da idéia não sentia medo ou coisa parecida. De acordo com suas próprias estimativas, a dor, se houvesse, duraria ínfimos segundos; provável nem ouvisse o som da colisão dos carros chocando-se com seu corpo – talvez dois segundos. Posicionado no meio da avenida vazia, esperou pelos motoristas que nesse momento davam a partida.

Não houve roncar de motores. Bastou que a “vítima” levantasse a mão, com um sinal de positivo pelo polegar, para acelerarem os carros. Arrancou um, o segundo só após alguns centésimos, por reflexo da ação do primeiro. Os dois carros encontraram-se num estrondo. Os air-bags funcionaram exatamente como deveriam, mas os motoristas foram deixados atordoados no interior dos veículos. Do lado de fora é que acontecia o incrível: no instante da colisão, o corpo atingido por ambos os lados simultaneamente, expeliu a cabeça para o ar, feito uma rolha de champanhe sacudida.

E a cabeça voou alto. Num primeiro momento, ela observou a fumaça dos carros amassados que atingiram seu tronco; depois, os amigos a saírem embaralhados dos veículos. E continuou a subir. Viu a vizinhança curiosa do incidente; o bairro: reconheceu alguns prédios à volta. Enxergava mais à medida que subia: fábricas, ruas atoladas de carros, pessoas que se amontoavam nos semáforos, enfim, a cidade ruidosa. Os trabalhadores forneciam um quadro engraçado e triste, em movimentos compassados, grupos que iam e vinham para a esquerda e para a direita, para cima e para baixo; reconhecíveis graças às roupas. Manadas de saltos altos desciam dos ônibus, ternos surgiam do metrô, calças jeans de todos os lugares. A cidade lhe parecia uma máquina, a qual depende de combustível para mover-se – aquelas pessoas o eram. Os prédios eram as bocas desse ser e estavam eternamente sedentas daquelas almas.

A cabeça continuou subindo e seu dono concluiu que a morte demorava mais do que havia imaginado, ou seriam aqueles últimos instantes mais longos justamente por serem os últimos? Não sabia. Trocou as análises desnecessárias àquela ocasião e voltou à realidade. Nessa desatenção, alcançou uma altura considerável. Estava entre dois paredões de nuvens. Acima dos cabelos, estavam flocos leves e claros, os quais se movimentavam com o soprar do vento; abaixo, sólida, uma parede de ares de concreto, escura, pesadamente marrom. Aquela devia ser a fronteira que divide o mundo dos homens do mundo celeste. A uns cem metros, os olhos divisaram uma série de chaminés de aço. As chaminés cuspiam os tijolos daquela parede de nuvem; parecidas com gargantas infernais, destituídas de cabeças.

O jovem principiou a perder altitude e “bum”! o pensamento foi instantâneo: aquelas eram gargantas sem cabeça, ele era todo cabeça. Com um torcer de orelhas para manipular a corrente de ar, desviou-se em direção da garganta mais próxima. O truque das orelhas funcionou surpreendentemente bem! Chegou na extremidade da garganta e, como esta arremessava fumaça, embaçados os olhos, errou o alvo. Foi parar dentro da borda, entalado.

Momento pavoroso! Havia feito os planos para uma partida rápida e indolor, e agora corria o risco de morrer asfixiado. É que agora toda a fumaça da chaminé entrava pela boca, nariz e até pelos ouvidos. Respirava de forma doente, com os olhos tumultuados, as ideias ganhando cores negras.

Acontecia também que a garganta respirava com dificuldade. O objeto entalado em seu interior impedia que os gases percorressem o trajeto habitual. Grande pressão acumulava no interior, pressionando o objeto intruso, até que não pode mais. E lá se foi, mais uma vez, cabeça para o alto, então com força redobrada.

Sem saber direito de seu estado, a cabeça indomável subia. Nem sequer viu a chaminé dando três ou quatro tossidas abaixo, retomando o ritmo normal. Passou despercebido pelas nuvens brancas. Voltou da inconsciência apenas quando atravessou a estratosfera, engoliu as nuvens que ainda estavam em sua boca e se viu morto... Um infinito de escuridão... As vistas, recuperando o foco, viu estrelas... a lua, e porque era então satélite terrestre, executou o movimento de rotação, no qual girou em torno do próprio eixo.

A imagem que se seguiu foi magnífica: lá estava a Terra, sem complexidade, viva, pulsante; mas era frágil, delicada e mais todos os sinônimos correlatos. E foi por conta daquela imagem que duas lágrimas azuis saíram de seu olho esquerdo; despregaram-se, entraram na órbita de seu pai, flutuaram feitos dois satélites em torno da cabeça.

Ficaria ali não fosse a gravidade, palavra esta que diverge da sensação que a envolvia, foi retornando a cabeça para seu planeta de origem.

A descida, resumidamente, foi nada mais que um flashback ao contrário, ou seja, foi a descida (nuvens brancas, chaminés, nuvem marrom, cidade...); seus satélites evaporaram-se na reentrada com a Terra. Porém, uma coisa não se mostrou exatamente igual: o povo da cidade estava estacado, carros parados – os semáforos ainda funcionavam. A cabeça encaixou no corpo a que lhe pertence e juntaram-se, cabeça e corpo, com a multidão silenciosa.


*****


          Este texto, escrito em 2007 ou 2008 - não tenho certeza -, faria parte de uma série de contos chamada "Era de Aquário", da qual acabei perdendo o interesse de finalizar. Lendo esses contos agora, percebo uma espontaneidade difícil de obter (até porque precisa ser algo muito natural e despretencioso), e é isto o que torna esses contos importantes pra mim.




Preciso relê-los, gastar um tempo neles e talvez terminar esta série.

sábado, 6 de março de 2010

Eternidade

Preciso agradecer ao Caio que na época de composição dos poemas visuais, que eu testava, me ajudou a montá-los no CorelDRAW, e essas sessões acabaram tornando-se aulas e suas lições eu agora uso constantemente quando o Bloco de Notas já não é suficiente para as ideias. Valeu Caio!








quinta-feira, 4 de março de 2010

O AGORA SEM HORA MARCADA

Quando despe os papéis que representa,
o que há de mais sujo fica à mostra,
e não é recomendável olhar o espelho,
não é o tipo de conselho
que agradaria a alguém.

Quando você retira o vício,
cada agulha tem um nome;
você se sente vazio,
vazio e sem ônibus de volta
Você se desprende do ciclo,
mas o mundo é que é a droga.

Sem efeitos que entorpecem,
a loucura bate à porta,
pronta pra ficar,
porque você é nada
e o nada desagrada...
Ela estará sempre lá fora,
olhando através das janelas,
das brechas do telhado;
mas você já é só janelas,
sem olhar pra ela.

Sorrisos, quando lhe falam,
você é só sorrisos;
quando chove,
você não é mais a pele que envolve,
é a gota enquanto chuva
que cai na testa e escorre,
sob o ponto de vista da nuvem;
você é a terra
entre os dedos do pé da serra
Você é música enquanto toca,
é o agora num calendário sem data,
é o som enquanto nota.


DANILO ZAMAI - 04/03/2010

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

MINGUANDO-ME PERCO

Lua parada,
obrigado por nada,
por espelhar errada
e me lançar na cilada da poesia
Nestes dias tenho vontades de nauta,
de te alcançar no telhado,
quando ainda escala o horizonte
Aí enterrei os versos mais preciosos
para mantê-los a salvo
dos percalços daqui.

Errei o alvo
porque a Lua minguava
- minguando-me perco -;
obrigado por nada,
por largar-me no vácuo,
encarando a mim mesmo.


DANILO ZAMAI - 04/01/2010