domingo, 30 de maio de 2010

VIDAS QUE PASSAM

Ando distraído pela calçada,
que me leva a mais um dia de...
não me dou conta que a calçada acaba:
bombardeiros rasgam o céu, tanques sangram a terra,
o inimigo se lança detrás do barulho imenso,
lâmina e corpo são um só
Eu sou só e silêncio...
suspenso o olhar de "não precisava ser assim"
Agradeço à mão que me ergue
da trincheira onde me encontrava,
me levanta do meio-fio
Redispostos, os pés movem o trajeto:

Pessoas caminham apressadas,
os olhares, por outro lado, caminham sem pressa;
e a sensação é que um deles me persegue
Despontam aqui e ali rostos reconhecidos,
a cena se reproduz logo à frente:
paredões de faces excitadas,
de ambos os lados, agurdam pela execução,
artilharia de vaias é lançada
ao corredor,onde arrastam o acusado
O carrasco é melhor recebido...

Entre último suspiro e metal, permanece o segundo
Interropindo pela luz na estrada, desperto ao volante,
a um suspiro de distância, a colisão inevitável
Nos separa o instante, entre nós, o segundo
permanece como medida de tempo,
mas capaz de abarcar um mundo.

No leito de hospital, onde me deixo,
o corpo parece descansar, diminuindo,
até tornar-se ponto azul terrestre
entre as mudas cintilantes astropedras,
encrustadas na caverna dos sonos
Sim, isto é sonho!
Cubro-me com o lençol negro do universo,
fecho os olhos em vão, como de vidro se tratassem:
astropérolas por onde eu olho e cometas passam,
suas caldas desenham caracteres numa língua sem palavras
e eu não posso descrevê-la.

Súbita, a luz irrompe de lugar nenhum,
apagando pouco a pouco as estrelas
do (uni)verso de minhas pálpebras;
cá estou eu de novo, lúcido como um bebê,
com a certeza de um dia reencontrá-las.



DANILO ZAMAI - 29/05/2010

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