sexta-feira, 20 de agosto de 2010

NOVOS VIZINHOS

- Vou fechar a janela, gato, tá um puta dum frio. Vai ficar aí ou vai entrar?
- Pode fechar, vou ficar aqui mais um tempinho.
- O que você tanto olha aí, afinal, posso saber?
- Você não viu que mudou gente nova no apartamento da frente, no segundo andar?
- Eu vi um caminhão de mudanças um dia desses, mas nem prestei atenção em quem poderia ser. Eles estão lá embaixo...?
- Hei, hei, hei, o que você tá fazendo! Presta atenção, pô! Não aparece com a cabeçona na janela, senão você vai dar muito na cara.
- Então me fala: quem é que você está vendo aí?
- O pessoal que se mudou, os novos vizinhos, eles trouxeram uma gata, e ela está se espreguiçando no parapeito neste exato momento. Uhmm, que belo exemplar da espécie...
- Vai lá, garanhão, joga um charme pra ela.
- Já vi que de fêmea você não entende muita coisa... Não posso me comportar feito um predador, vai assustar a gatinha. Além do mais, preciso parecer indiferente, até mesmo desinteressado por causa da Tita, a gata do terceiro (andar); preciso deixar no ar a minha preferência por ela, mesmo com a chegada da nova vizinha. Assim eu faço uma dupla jogada: a Tita não me vê como um safado, um cara de pau, e ainda deixo a impressão para a recém-chegada de que não me jogo atrás de qualquer rabo de gata (o que é uma baita mentira). Os gatos da redondeza vão aparecer igual urubu, quando sentirem o cheiro de carne nova no pedaço. Eu vou ficar na minha, aparentando normalidade. Não vai demorar muito a vizinha nova percebe o flerte que rola entre mim e a Tita, daí é esperar pela reação dela, ver se ela começa a prestar mais atenção em mim...
- É bem isso mesmo... Mulher é igual emprego: só aparece quando você já tem uma.
- Por isso você não tem nem um nem outro, e pelo visto vai continuar assim por um bom tempo...
- Vai me zuando, gato, acabo com o seu esquema romântico agora, se você quiser.
- Hei, cara, tô só brincando, pega leve.
- Aposto que você ia ficar puto se chegasse da rua qualquer dia e percebesse que tem mais alguém dormindo na cama, sem espaço pra você deitar. Você sabe que eu durmo até mais tarde e que a minha cama é a única que fica desarrumada o dia todo. Queria ver a sua cara se houvesse alguma mulher pra me obrigar a organizar este quarto... Adeus edredom pra se enfiar e adeus escurinho pra você não dormir com a cara no Sol. Isso se eu não conhecesse alguém que não gostasse de gatos...
- Senti o cheiro da discórdia no ar...
- Porra, me esqueci do pão na frigideira!

Um comentário:

Jack Canquerini disse...

puts... quando você disse que escrevia eu não imaginei que você fosse tão bom assim ... é acho que subestimei você.
espero que possa me perdoar =/
mas agora sou incondicionalmente sua fã ;D
bejus...