O caso da jovem de cinco anos me fez pensar sobre o poder do convívio familiar em nossa percepção de mundo, convívio que, se não nos moldam, influenciam demasiadamente em nossa formação como indivíduos. É óbvio que a jovem russa, cujo nome eu não consegui encontrar em lugar nenhum, é uma exceção: ela foi condicionada desde muito cedo a acreditar que fazia parte da espécie canina, e não duvido que os cães deram-lhe mais carinho que a própria família. Me refiro à herança negativa deixada por pais a seus filhos, os quais, por sua vez, poderão descarregá-la na futura geração. Uma família cristã, por exemplo, ao ouvir falar que um muçulmano é casado com mais de uma mulher, irá dizer ao filho “que absurdo!”; esta pessoa – novamente -, por condicionamento, realmente acreditará que a poligamia é um pecado, se apenas observar pelo lado “ocidental” da coisa, e talvez nunca se imagine na possibilidade de ter nascido no oriente, curvando-se por Alá todos os dias, em direção à Meca. Este exemplo, particularmente religioso, pode ser estendido à diferença da cor, classe, profissão; e até mesmo a coisas aparentemente simples como o time de futebol a que torce. Temos aí a raiz do preconceito.
O ambiente familiar tem – e com muita eficiência – a capacidade de definir a mentalidade de uma pessoa, mas, como toda instituição, a família não é infalível. Por outro lado – ainda bem que há outro lado! –, temos condição e obrigação de refletirmos as (in)verdades que nos foram ditas quando tivermos condição para fazê-lo, ainda que a fonte dessas (in)verdades seja um reduto tão importante quanto a família. O que não se pode fazer é aceitar o que lhe é dito sem mesmo filtrá-lo, e latir asneiras por aí. E isso vale para o mundo de informações que nos perpassa durante toda a vida; porque, diferente da garotinha russa, precisamos notar a diferença entre falar e ladrar.